POEMAS VENCEDORES – BRASIL
1º LUGAR:
IMÓVEL
Autor: Carlos Eduardo Canhameiro (São Paulo-SP)
porque sumiram
os meninos
de Belford
Roxo
e o (nosso) país
seguiu
[mais uma vez
impávido colosso
este poema não
consegue ir
adiante
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2º LUGAR:
SOBRE AFETO
Autora: Maria Samara Fernandes da Silva
(Baturité – CE)
Nas cores
Nos laços e deslaços,
Me desamarrei feito o sangue que nos escorre.
Meus olhos se alinharam feito sol e lua
Em uma oscilação de encruzilhadas de afeto.
Discorre em mim a fragilidade de beleza rara
E agora não corre, fica no colo que te socorre,
[desa’gua
deixa que teus elos se enlaçem
desamarra os fios que tentam te alisar.
[ Se afasta
Deixe que o tempo te abrace
Rechace os que te atormentam
[achegue-se
Veja quais colos te acolhe
[Transforme em lar.
Perceba que nem todos você pode chamar de casa.
Sinta que o tempo já vem distante, apressado em passar
[Então passe
Que na pressa do tempo, te encontre
Retorne
E assim, em abraços apertados
Se perca, mergulhe, se afogue.
esqueça que sabe nadar.
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3º LUGAR:
ESTRIBILHOS
Autor: Weslley Moreia de Almeida (Feira de Santana – BA)
Desfiz um poema
eliminando versos
acrescentando vácuos
para a percepção nova do silêncio oculto
na beira do rio das palavras.
Cortei uma rima
como quem despe estribilhos
como quem quebra uma corda
enquadra uma roda
desafina um instrumento:
e toca
dissonâncias
num insólito ritmo
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4º Lugar:
O LUTADOR
Autor: Djavam Damasceno da Frota (Fortaleza – CE)
atrevo um prego
à pele da palavra
: larva
que leve estala,
estreita estrela que
linha a linha
ainda
me navalha
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5 º LUGAR: a autora não autoriza a divulgação
6º LUGAR:
(O autor enviou e-mail desautorizando a publicação)
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7º LUGAR
ALVORADA
Natã Rogerio Da Silva Canevazzi (Bebedouro – SP)
Vês velejar pelo fino átrio que se esconde
A prova, as magoas que de todos os rios fluem
Dos vagalumes que a noite não respondem
Pelas fumaças que no ar já não poluem?
Que modéstia emblemática reza feita
Que do rosto fino escorrem rios de gritos
Como se fossem mortas plantações de trigo
Abandonadas a um vil destino réu, sem colheita.
E do sol que sem piedade faz queimar a nuca,
Será ainda dele toda a culpa do calar e amordaçar
Da pele sem ternura, agora escura e castigada?
O tempo há de mostrar aos homens na alvorada
Quando corpos imóveis se estenderem nas calçadas
e um sentimento de culpa os tomarem como nunca.
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8º LUGAR:
ECO DOS ABISSAIS
Autor: Venicio Conceição Souza Garcia (Parintins – AM)
Ampulheta d’água
Tempo líquido
Descido dos Andes
Vendaval das horas
Círculo rede moinho
Contemplativo ser
Deusa mística degradê …
Ampulheta d’fogo
Sol e larvas
Alter ego
Curvas do corpo
Passado amuleto
Sentimento amor lado
No peito da pedra verde
Do meu ser transfigurado…
Ampulheta d’vento
Transparência dos sinais
Redoma de sentimento
Eco dos abissais
Abismo letal
Violação do mundo
Pudico e imundo
Pandora do desejo
Convergência do que vejo…
Ampulheta d’terra
Filhos nascidos do barro
Do húmus esculpido no mármore
Alma do dia
Corpo da noite
Reverso e mundano
Composição perfeita
Arte dos ancestrais
Pintada no corpo
Criação da vida
Ampulheta elementais….
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9º LUGAR:
ANGU DE FOME
Autor: Nicoly Valaska dos Santos (São Paulo-SP)
Farinha boa é a que forra o bico
o siso cola em saliva feito gordura
dura, rasgando desce;
Farinha boa é a que faz músculo,
goma de repuxo estrepe,
baixa a fuça e engole em seco, sempre.
Fubá, feijão, água e sal.
Não tem gás arma brasa no quintal;
Faz sopa do perigo que é o menino
correr chamuscado de pança vazia,
domar o fígado com angu capataz.
Cumbuca de microplástico
charque de sódio entope
ocre a veia coágulo;
Caldo amarelo de triângulo
carece de muita farinha boa…
Que diabos há na minha sopa?
A mão em riste triste agradece
dieta paleolítica, alta estética promete
Fuça cadavérica eiva e saliva
(dizem que é bom pra cabelo em queda
e ainda disfarça o mau cheiro).
Necropolítica é o açougue em fila:
farinha pouca, o do boi primeiro.
Em boca ressequida não entra mosca,
nem fruta, leite, óleo, hortaliça ou arroz.
Aprenda a cozer cartilagem em louça:
– Sufoque a rouquidão feroz;
– Disfarce a pouca caloria, ria;
– Raleie o angu peneirado;
Está pronto o algoz.
Compreenda, Senhora:
não há receita nessa vida
que possa imitar o manjar
com gosto de matar
a carência de carne
com nervo do osso e do bico.
A carne mais barata do mercado
é a minha!
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10º LUGAR
APOCALIPSE SEGUNDO DIÓGENES
Autor: Vítor de Lerbo Carvalho (São Caetano do Sul-SP)
enquanto me livro deste soneto
torço para que encontres tua luz
ou alguém para carregar tua cruz
ou então um punhado de cianureto
anjos já não cantam em teu coreto
teu ouro é seco e teu olhar não reluz
para tudo que a paixão não traduz
vêm os versos do primeiro terceto
falhas abrem as pernas como mães
cicatrizes jorram novo sangue híbrido
nas sombras coleiras devoram cães
que o armagedom não seja interrompido
pois em teus devaneios ermitães
o paraíso será esculpido
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POEMAS VENCEDORES MATO GROSSO DO SUL
1º LUGAR
AMARELINHA
Autor: Reginaldo Costa de Albuquerque (Campo Grande-MS)
Sobe o telão que o tempo não mesquinha…
Num recanto de praça, ao sol mais brando,
um mosaico infantil se equilibrando
na leda animação da amarelinha…
O céu bem perto… e a chave, uma pedrinha…
Quadro a quadro e eis a criançada, quando
não se pensava em truque e ardis, brincando
entre erros, falhas ou pisões na linha!…
A mão do acaso rebobina a fita…
E ali, bandeira em punho e voz em grita,
a alma de uma pátria, êxule, ferida…
Desenhos de hoje, amar/é/linha vaga…
Ora um céu de poder… cega e embriaga…
Ora o céu do ideal… redoura a vida.
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2º LUGAR
A ESPERANÇA QUE RELUZ NO SOM DO SOL
Autora: Adrianna Alberti (Campo Grande-MS
Seis e vinte sinto meus ouvidos acordarem
ao som agudo da sinfonia das araras canindé.
Os dias ruins reluzem com o sol forte
através do céu de tons azuis tão brilhantes.
Meus pés pisam em ruas floridas de ipês coloridos,
esses belíssimos tapetes para olhos sem tempo.
Escorre como o inverno, horas estranguladas
entre os grossos dedos de uma ansiedade barulhenta.
Afogo a arritmia em três doses generosas de café,
novamente, abro mão do sono insuficiente
em sua espuma dourada.
Então,
deixo a mente chover nas cores vívidas do seu arco-íris,
minhas quimeras dançando com a miríade
incompreensível de suas tantas nuances.
Repouso de olhos abertos, imersa em suas formas abstratas,
reflexos de miragens de sonhos lúcidos.
Respiro o oxigênio em seus sons suaves.
Absorta entre lilases e roxos,
reverbero o sorriso esperançoso dos exaustos.
E tento, de novo.
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3º LUGAR
CORPO MATOGROSSO
Autor: Fábio Gondim (Campo Grande)
Alagados meus olhos,
um novo amor
nascente prosa.
Passeia em meu cabelo
a música do vento março.
Na pele, colorau e mate:
meu corpo orvalho imita
o viço urgente dos camalotes.
Cerrados meus olhos,
um velho amor
poente segredo.
Rompem em meu ventre
óvulos pequis.
Outubro menstrua blasé:
meu corpo febril imita
a nudez agreste dos pés de ipê.
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4º LUGAR:
JARDINS ESTÁTICOS
Autora: Diana Pilatti Onofre (Campo Grande)
na simetria das pedras
o silêncio faz crescer musgo
a palavra úmida na boca da rã
cala histórias noturnas
e eu sonho girassóis
sobre a pálpebra da noite
grilos trincam estrelas
a palavra-estilhaço escorre calada
de algum sonho violado
e eu transcrevo minhas imprecisões
uma ave desperta auroras
a palavra neblina paira sobre a relva
no ponto de ônibus um hiato
uma mulher a mastigar versos
e eu admiro o cílios do dia
o sol arde uma rima
há outra palavra
na aba do crisântemo
a encarar inerte o meio-dia
eu guardo pétalas e saudade entres os lábios
onde se faz poesia
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5º LUGAR:
HONRA E GLÓRIA, MARIAS!
Autora: Eva Vilma Souza Barbosa (Campo Grande – MS)
Benditas sois vós, Marias,
com suas inspirações para vivermos
à imagem e semelhança de suas forças.
Benditas sois vós,
com seus corações pulsantes
cansados de batalhas,
e nunca abnegados da luta.
Ditosas sois vós, Marias,
corpos incandescentes,
corações, olhos, bocas, vulvas,
vasos sanguíneos, glande,
tudo latente.
Ditosas vós,
que dais de comer aos sonhos
e de beber às buscas
com o néctar da fartura.
Benditas e sagradas, vós, Marias,
com suas incontáveis ressurreições
no terceiro instante subsequente
às tantas mortes germinadas do patriarcado.
Benditas Marias!
de todas as cores
de todos os corpos.
Meu coração se curva
às vossas forças.
alma minha faz honrarias
aos vossos ensinamentos,
honra e glória, Marias!
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6º LUGAR
A PESTE E O PAÍS QUE SE PERDEU
Autor: Volmir Cardoso Pereira (Campo Grande)
Conta-se que do Oriente veio a Peste
Viajando em narinas e voos celestes,
Flagelo das urbes, foices aladas
Sim, a Peste, aerossóis e fumaça.
Conta-se que homens e mulheres perderam os deuses e as ilusões
Quando viram nos caminhões os corpos empilhados.
Rios e rastros de sangue escorrendo:
No stop dos semáforos das ermas vias.
Nas bocas rubras de manequins abandonados nas vitrines.
Nas taças de vinho sujas na pia.
Conta-se que o povo, meio morto, meio vivo
Acumulava lutos, uivos, raivas, insônias, carências, azias,
Decepções no delivery, teorias conspiratórias, demências, dívidas,
Portas fechadas, ausências, likes, pornografias.
Conta-se que Giovanni Boccaccio e Albert Camus
Quedavam-se ali, nos átrios do devir
Zombando dos homens que tentavam lucrar com a Peste:
Nos laboratórios de vacinas, púlpitos, milícias,
Licitações, mise en scène de arlequins fascistas,
Escritórios de Wall Street, negócios da China, prostíbulos em Hanói,
Cloroquinas da Índia, algoritmos, pirâmides e bitcoin
Enquanto urubus, ah os milenares urubus,
Planavam num círculo cada vez mais espesso entre o cinza e o azul
Bailando rasantes sobre o pasto-cadáver de rotas cidades.
It’s a hard rain’s gonna fall.
Conta-se que, ainda assim, cantaram a esperança debaixo do sol.
E que mulheres, crianças, negros, guaranis, sem-terra, sem-teto,
Imigrantes, travestis e todos os assassinados no deserto
Guardaram em cantis sua fúria acumulada
Em cada soco, facada, chute, tiro, forca, cruz levantada,
Para decerto choverem seus corpos delinquidos e líquidos
Sobre fímbrias e fronteiras esquecidas
Riscando no chão um mapa de água salgada
De um novo país, placenta de lágrimas,
Esculpindo com estecas de ossos torturados
Animais marinhos, lírios selvagens, falésias, formatos alegres
Semeando danças, chuvas, banhos, beijos e festas
Para depois, muito depois da Peste.
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7º LUGAR
ALBOR
Autor: Fábio Coutinho de Andrade (Campo Grande)
No albor da vida surge o amor, em esplendor
Seguramo-lo: tornamo-lo parte de nosso ser
O dia vem em canto mavioso, com seu fulgor
E o instante queremos em nossas mãos reter
Aurora! Anunciação da estação ainda por vir!
Primavera! Flores multicores o chão a cobrir
As áleas de amores-perfeitos parecem enfeitar
A passarela por onde irás, até mim, chegar
No albor da vida surge o amor, em esplendor
Vem de longe, trazendo consigo novo olor
Prenunciando sutilmente a nova estação:
O perfume das flores-por-vir em gestação
Que medram e invadem com doce aroma,
Aos atentos amantes assim se oferecendo,
Durando apenas um instante, o momento
Tal qual beijo fugaz, na memória eterno
Ocaso! Secas folhas no chão a lembrar
A alameda que outrora nos sorriu!
Outono que a sequidão n´alma traz
Que o inverno espera para descansar em paz!
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8º LUGAR:
LEIAM
Autor: Erick Vinicius Mathias Leite (Campo Grande)
Não vês, leão? O sol no girar dos signos
Orgulho dilata como alta brasa
A juba abaixa frente espelho d’água?
Afoga-se em si como mil narcisos
Que vês, leão? Trom soa por Judá
O Xácti divino de Nara-Simha
Shakya, Buda Gautama ruge o Dharma
Genro de Maomé, fera de Alá
Não vês, leão, sua luz te cegar?
Um animal de existência execrável
Corpo que não passa de um avatar
Mais sentidos inhabitam, notável!
Ainda mesmo que tentes enterrar
A carniça já cheira insuportável.
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9º LUGAR
A SAGA DOS GUATÓS
Autora: Gleycielli de Souza Nonato (Coxim – MS)
Gua-dá-can viam as cheias.
Alagando terras brejeiras;
Embarcações de cambará com zinga de caneleira
Levavam famílias inteiras.
Depois veio a guerra.
Família contra família.
Trocamos os gritos felizes de crianças nos alagados,
Por gemidos de soldados.
Então, a batalha da carne.
Sarampo, catapora, febre amarela.
Mataram nosso povo
Pouco a pouco,
Despejado em banguelas.
Logo após os abatedouros de jacarés.
Fomos presos e enjaulado
Como nem se faz com animais.
A nossa cultura foi confundida
Com a falta que a cultura faz.
Por fim, os fazendeiros,
Nos expulsaram de nossas terras
Soltaram gados, gygyago rô;
Nos acuaram em uma ilha,
Nos espalharam em periferias.
Os mais velhos adoeceram de desesperança;
E os mais novos se tornaram peões.
Trocando a chicha
Pelo veneno da cana.
Colocaram cerca onde éramos livres;
Nos deram nome, religião e poucos abrigos.
Afogaram a nossa existência,
E não nos deram motivos do etnocídio.
E das cinzas das fogueira nossas almas vão insistir:
Gôcô aréro tyto vogum o ge com.
– Nós somos tão fortes, mas tão fortes,
Que nem a força nos fará desistir.
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10º LUGAR
(DES) HUMANIDADES
Autora: Luci Dalva Maria de Souza (Campo Grande)
No arcabouço da memória
Sou fortaleza,
No suor acorrentado
Fiz a riqueza de suas terras.
Suas??
Ironicamente fundamentado nas Leis…
Lei de Terras… Suas terras? (ironia)
Sonho da cor livre!!!
SIM
Quase 500 anos
E ainda amargam os meus dias
A história que se repete
No apelido…
No deboche…
Na sexualização,
Objetificação do corpo,
Na ação velada e mesmo desvelada,
Que oprime,
Reprime,
Que Mata.
Mata de muitas formas e por muitos motivos.
Qualquer motivo!!!
Porque refugiei-me em Quilombo
Porque confundiu-me
Porque corri,
Porque fiquei,
Porque desisti
Porque dentro de uma Universidade entrei
Porque, resisti,
Tantos são os porquês,
Mas eu digo BASTA!!!
Sou milhões de outros eus,
Sou Nação que grita
Sou elo forte da corrente
SOU LINDA
SOU PRETA
SOU A GARRA, AGARRADA AOS FIOS DA MEMÓRIA
SOU AFRICA
SOU BRASIL
SOU HISTÓRIA
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